Os dados são preocupantes: foi descoberto que um litro de água engarrafada pode conter até 240 mil minúsculos fragmentos de plástico, revelando uma ameaça invisível.

Uma técnica recente revelou que o líquido pode conter de 10 a 1000 vezes mais pedaços de plástico do que se acreditava anteriormente. Essa descoberta aponta para uma presença ainda mais significativa de plásticos em nossa água do que se imaginava.

Garrafas

A poluição:

A poluição plástica está se tornando uma crescente catástrofe ambiental. Os polímeros sintéticos duradouros que compõem o plástico permitem sua persistência prolongada na natureza, resultando em consequências devastadoras. Incidentes como redes abandonadas prejudicando a vida marinha por meio de emaranhamento e a descoberta de estômagos de animais repletos de resíduos plásticos são preocupantes. No entanto, ainda mais alarmantes do que esses exemplos visíveis são os resíduos invisíveis: microplásticos e nanoplásticos. Esses fragmentos minúsculos são tão pequenos que conseguem penetrar em espaços diminutos, inclusive em nossos corpos e células.

Os especialistas estão convencidos de que os plásticos em tamanhos “insignificantes” nos cercam, mas até o momento, poucos métodos foram capazes de detectá-los diretamente. A suspeita dos cientistas é de que os mais difíceis de serem identificados são os mais prejudiciais: fragmentos de plástico com 100 nanômetros ou menos, o que é menos de 1/100 da largura de um fio de cabelo humano.

Novo estudo: 

Um novo estudo, divulgado na segunda-feira (8) na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, apresenta uma técnica de detecção de plásticos capaz de identificar rapidamente o tamanho e a composição de partículas minúsculas. De acordo com os autores, foi constatado que em média 240 mil partículas estão presentes em um litro de água engarrafada, um número superior ao relatado anteriormente. Essa descoberta destaca a verdadeira presença de micro e nanoplásticos espalhados em nossas casas e vidas.

 

Particulas de plasticos
Microplásticos

 

 

Sherri Mason, diretora de sustentabilidade da Universidade Estadual da Pensilvânia em Erie, descreveu esse avanço como crucial, afirmando à Smithsonian Magazine: “Se não pudermos detectar as partículas, não poderemos estudá-las. É por isso que este estudo é tão importante.”

Cada vez que interagimos com um tapete sintético, abrimos um recipiente plástico, rodamos os pneus ao dirigir ou lavamos roupas, é provável que estejamos dispersando milhares de fragmentos de micro e nanoplásticos imperceptíveis. Mason compara o plástico à pele: “O plástico é muito mais parecido com a pele do que imaginamos. Assim como a pele, ele está constantemente descamando.”

Os resíduos podem eventualmente encontrar seu caminho para os cursos de água, as pessoas podem inalá-los para os pulmões e podem acabar nos estômagos através dos alimentos e bebidas consumidos. As informações limitadas que os cientistas possuem sobre os riscos dos micro e nanoplásticos para a saúde já são o bastante para gerar preocupação.

Os estudos mostram que os nanoplásticos produzidos em laboratório podem causar danos ao sistema imunológico, interferir no metabolismo corporal e estimular a autodestruição celular. Em experimentos com ratos, esses nanoplásticos aumentaram o risco de doença de Parkinson, perturbaram o desenvolvimento fetal e penetraram no cérebro, causando impactos prejudiciais. Os pesquisadores conduziram principalmente essas investigações iniciais usando polímeros uniformes em tamanho e composição. Os tipos de plásticos que encontramos no mundo real são muito mais diversos, o que torna seu impacto potencial mais complexo e ainda não completamente compreendido.

nanoplásticos
Nanoplásticos

 

Os nanoplásticos têm sido um desafio para os estudos devido ao seu tamanho extremamente pequeno. Para superar essa dificuldade, o novo estudo emprega uma técnica chamada microscopia de espalhamento Raman estimulado. Esse método utiliza dois lasers direcionados para uma amostra de micro e nanoplásticos dispersos. Essa combinação de luz faz com que os átomos das partículas ressoem. Ao identificar as assinaturas de energia correspondentes às vibrações atômicas, os pesquisadores conseguem identificar os tipos de polímeros presentes. Além disso, podem calcular o tamanho e a forma dos fragmentos com base na pequena dispersão da luz que atinge essas partículas.

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